Balões

Corria atrás dos balões coloridos, aqueles que refletiam um brilho intenso, mas fugaz, de infância. O vendedor recatado recua, mas não deixa a oportunidade escapar: “Dez reais leva dois”. O menino encara um dos balões, o de azul turquesa. O azul dos mares enfurecidos. A força de Netuno está contigo, menino dos mares! E agora reflete o menino todo retorcido. O menino agora tem olhos grandes, corpo débil e pernas curtas. Sentiu-se fraco ao reparar na sua imagem naquele convexo covarde. E que talvez não fosse assim tão covarde, já que puxava e esticava o barbante em direção ao céu o tempo todo. Mas se inspirou na bola rubi que passava majestosa por eles e que devia ter despistado o seu último dono a alguns metros, sem pernas, nem grana. Arrancou o balão e a disparada e, pelo susto provocado no vendedor, fê-lo abrir os palmos, presenteando os céus com balões de todas as cores. Desencadeou o evento da cidade. A cidade parou e olhou para o céu. O menino acompanhou a bola rubi e abraçou o balão turquesa antes que as mãos do vendedor o alcançassem. Agora era o menino dos ares! Voava pra longe! E lá de cima o homem parecia uma mosca sem asas, agonizando. “O céu te paga com dias de Sol, moço!”. O menino leve, leve. Mal sabia que roubara. E, se o percebera, não se sentia um ladrão, e ponto.


2 comentários:

Noubar Sarkissian Junior disse...

Lindo, lindo, lindo, lindo...

desencorajou meu sono e me fez olhar pra esse céu por alguns minutos, imaginando os dias de sol que ele ofertara a um vendedor de balões...

lindo.

Dani disse...

Sua maneira de perceber as coisas desse mundo é indiscutivelmente maravilhosa. Não consigo saber se essa cena aconteceu, mas acredito que não. Sendo assim, sua maneira de construir, de imaginar, é igualmente linda!
E sempre artística. Fazendo imaginarmos sempre uma pintura, uma fotografia.
Parabéns!!!!