Garça

Pensei em escrever. Aquelas imagens do trem correndo tão perto dos três e das tendas envelhecidas com seus mil lugares mágicos e trapézios pelo ar ficaram na minha cabeça. A banda de sopros dos meninos, o professor com sotaque estrangeiro e o seu violão nas mãos, a música indiana das janelas de uma das salas do jardim. As flores de primavera rosa choque com suas três pequenas e bem desenhadas hastes amarelas no meio delas. Suas pétalas quase transparentes, tamanha delicadeza, as lembranças das irmãs perfumeiras. O durante: cheiro bom. Peri cheira à essência de algo bom. Rabiscos na lousa, mãos de giz, brancas de paz, asas quentes, salgadinho de cebola. Lá dentro, o livre humor de um anarquista encanta. A paixão pela vida e pelo corpo. Ou melhor, pelo corpo-vivo, corpo não-múmia, corpo dançante. Corpo, corpo, corpo. Por aquela boca de noventa anos, até os números falavam, davam prazer. Tudo que dá gosto de ver e uma vontade doida de respirar. De experimentar o vento, de viver o espírito de pulmões/coração aberto(s). De "vibrar como revolução"!

E os olhos fitam, se agradecem (se reconhecem). E a consciência: se espande. Única.   

*Espírito vem do latim “spiritum”, que quer dizer sopro, vento, energia, impulso.

Com José Ângelo Gaiarsa.

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