Soul

Sinta o vento... traz a chuva sobre nós... vamos colher as espigas douradas...

Assovios partem do imenso corpo de centeio. Traços em grafite se reclamam, se cruzam e se alteram a cada movimento daquela dança plena, entregue, sementes que se movem suaves como um véu celeste, sem noivas nem pincéis: douram a superfície de cada molécula de oxigênio como alquimistas descompromissados.

São as asas soltas do som, celebrando caminhos novos. Respiração pulsada. Um sossego aceso adoça meus lábios que ousam compor. Criações fugidias para uma memória brincalhona, irresponsável, de um vai-e-vem desordenado, regado a flores da manhã seguinte, que talvez nem surjam como se espera, nem se espera que surjam de verdade. Ah, há tanto a se pensar quando nos dispomos a isso. Eu poderia me enganar com um punhado de frases razoavelmente coerentes. Seria vão? Mas os pensamentos não fluem como o prazer das sensações. Pelo menos, não agora. Há música no ar... soprando ainda leve dos peitos dos pés às pálpebras cerradas...

Cesso meus esforços e permito-me sentir essas asas... Calo e escuto: sssssou (L): our soul...

Um comentário:

Noubar Sarkissian Junior disse...

a leveza e o modo tão raro e natural com que você combina as palavras chega a quase multiplicar o que você expressa. E ah, o som! Só não deixe que a irresponsabilidade brincalhona (magnífico isso! rs) de sua memória nos prive das coisas sonoramente novas que há por aí! Beijos