A humildade de um rapaz é sempre coisa muito admirável. "Modéstia" já é palavra muito carregada de falsa modéstia. Digo humildade de verdade, aquela com a qual ele desfaz sua imagem como primeiro plano, sente-se capaz e age com ternura e brilha na sua arte, sem esperar créditos pela graça. E se os recebe, solta-os no primeiro vento para que jamais seu ego lhe tire a leveza de ser. Os aplausos são apenas o momento de inverter os lados e ouvir o espetáculo da platéia se movimentando. É quando as luzes de lá se acendem e ele pode contemplar a beleza de cada feição humana, do coro em formação original, da dança percussiva de mão em mão. Aplausos: para ele, era como presenciar um nascimento na escuridão. Hábito estranhado de permanecer em contemplação até que o último da platéia se cansasse de ser assistido e fosse embora. Alguns saíam indignados de sua indiscrição. Outros chamavam-no louco de pedra. No momento em que o palco resolvia virar platéia, havia sempre um constrangimento. Às vezes, o inusitado é recebido como agressão (ao conforto desse nosso costumeiro), mas a intenção nem existia. Ele só queria olhar mais de perto aquilo que nascia. Até os funcionários, cansados de expulsá-lo, tomavam o rumo de suas casas. Quando as luzes se apagavam novamente, um homem e um piano, a sós. Ouvia, então, dois corações, compassados.
3 comentários:
sou infeliz, pois morreu meu amor antes da morte, também. e este comentário fica por aqui. :)
ah, estamos! (resolvi matar o blog antes da inspiração principal me fugir de vez, mas o amor não acaba não. se refaz, circula, se deposita em outros olhos talvez. pelo menos, é o que espero... ou será ainda mais trágico? ser infeliz é estar permanentemente infeliz?)
quero deixar uma dica de um filme que acompanha na intensidade esse sentimento: MOGARI NO MORI/ "Floresta dos Lamentos" (ou "do Luto"). Um dos filmes mais belos que já vi. e não menos triste.
=O
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