Equilibrista de ônibus em movimento, com uma das mãos segura a capa, com a outra apóia-se no encosto do banco em que estou acomodada. Solta deste, arrisca, equilibra-se, estica e dobra a primeira vez, o veículo balança, ele volta a segurar, apalpa a capa com um dos palmos em seu corpo comprido e desajeitado. O semblante atento, levemente sorridente, não varia, olhos de límpido céu vão da capa à própria capa. Faz tudo aquilo como se aprendesse a dobrar naquele mesmo instante, vontade de orgulhar a professora e ganhar uma estrelinha no caderno. Coisa que, entretanto, guardaria eternamente consigo: era, acima de todas aquelas qualidades, um menino discreto. O percurso segue e o gesto cuidadoso continua encantando, logo poderia envolvê-lo num bolso de calça jeans e carregá-lo ali por dias e noites. O gesto, a capa, a noite, um traço de lua em seus lábios, aquela lua cheia através das janelas... Finaliza inclinando o queixo em direção ao peito até retirar a última porção de ar sob a capa, aproximando-se mais de mim. Sorri. E entrega aquele algo de tirar o fôlego nas minhas mãos. Sim, sou desmontável. Olhos baixos. O ponto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário