"Dançando na chuva"

 Afremov

Canteiros alagados, lagoas temporárias para pés em sapatos que fogem desengonçados da água. Brincalhonas, as poças riem dos homens. E os homens têm uma pressa de cão. A grama é alta. Horas de contínua chuva banham de lama espaços de circulação, calçadas esburacadas, o asfalto - enchem-no de automóveis e, estes, de rostos roucos de expressões vazias, obtusas. Engarrafamento na Marginal, uma inevitável pressa. Combinação desastrosa: o espírito do homem correu antes das quatro rodas e ele já não é mais um homem. É um desprovido de homem, quadrúpede ordinário. Que se guiassem pela boa selva, ora pois. A que liberta a vida dos ponteiros, que cura os desprovidos de espírito, pois os chama para junto de si: o corpo e a alma. Mas a chuva não cessa. Por outro lado, de repente, ouço risos contagiantes, quase infantis. E vão chegando mais perto... A expressão mais bonita vejo abraçada num círculo de quatro flores. É coletiva. Dividem um guarda-chuva colorido, alto, são tão felizes, pai! Giram, as quatro amigas, numa dança improvisada no meio da rua, cômica, pisando nos pés, umas das outras. "Meu cadarço!"... Evitam assim a lama das calçadas, o frio de outono com o calor humano, a chuva forte demais e aceleram os giros (e os gritos) em direção às laterais da rua quando surge um carro. É quando os faróis altos iluminam esse pedaço da noite escura, mas cheia de juventude misteriosa. E percebem as feições mais cheias de graça e de afeto nos rostos das meninas universitárias. Uma a uma, conforme o movimento circular. Aline... Caróis... Camila... Caracol? Fluxo de energia vital... Carimbó! Saias que voam... Corações... E, então, desviam-se do automóvel, agradecendo: "obrigada, moço!". "Hnf", o motorista finge algum incômodo e segue. As meninas riem alto e a noite ainda chora... baixinho, baixinho... 

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Léguas de lá, um homem sorri. 

    

E a chuva passa. Enxuga as lágrimas.