aquarela

acostar-se na relva
e só então
notar a gestação de uma lágrima

comprimir as pálpebras
até pouco menos
que fechar os olhos
completamente

e tornar as pontas de galhos,
vício, apego, de folhas sólidas,
reflexo líquido, lúdico,
esfumaçado
incerto
num lago espelhado
na lágrima crescente...
adolescente...
adormecente...

disfarce a rima,
dorme, paisagem...

pastel
tons de verde
e céu...
escurece:  choro aquarela.

4 comentários:

biel madeira disse...

incrível!
lindo!
maravilhoso!
uma das melhores coisas que eu li ultimamente!

Noubar Sarkissian Junior disse...

Escurecer (com o simbólico negrito) e chorar aquarela (chorar aquarela!!!) merecem concluir esse poema/fotografia/desenho de palavras!
Lindo, moça!

Camila de Sá disse...

O negrito é "imitação" (inspiração!) descarada, Noubar! hehee

Obrigada aos dois.

E que alegriaa te ver por aqui, Biel! Sorrio por dentro e abertamente com seus comentários em cada texto. Te devo um tour atencioso pelo eusoutchurbs também...

Mia disse...

E é bom mesmo! Poema pleno, palavras e imagens nascem e se completam pelos versos.

Me fez fuçar uns arquivos antigos, lembrei de algo que escrevi. Aí vai:

Paisagem emoldurada na janela
Confundem-se os traços
Em formas imprecisas
Só as cores persistem

Uma gota de chuva molha o vidro
De quadro a imagem
Fez-se caleidoscópio
Traços e cores são cacos

Choro ante o desconhecido
Diluo o mosaico em lagrimas
Já não há resquícios
De tudo que antes eu via

A ausência da solução enxuga os olhos
Seca o vidro, faz por os óculos
Certeiros se tornaram os traços
Fortes se fizeram as cores

Das lentes que estiveram sobre estes olhos
Nenhuma trouxe a nitidez que desejei.

(acho que não tinha título)