São Thomé das Letras - MG
Quem poderia me dizer por que motivo uma lágrima solitária desliza sobre essa face de expressão neutra e descansada? Cachecol nos ombros, cobertor nas pernas, meias de lã nos pés. Esse mundo é confortável e bom. Não há nada de que se possa reclamar, há? (há?)
(No entanto,)
Uma nostalgia súbita e viciante me experimenta o dia todo: e me parece mais clara ao apreciar um instrumental - ouço a trilha de "A casa do lago" e meu coração palpita, de carona, na flutuação temática de sua total intensidade. Ainda assim, sinto-me inerte. Mais do que aquelas rochas destroçadas das pedreiras de São Thomé. Hesito em começar qualquer outra coisa. Qualquer atividade urbana (a imobilidade já é uma atividade urbana). Prendo-me à cama como fito uma página que não quero virar.
Não vi a rua desde que cheguei em casa. Pois ela não me leva à cachoeira da Lua, nem acumula terra na sola das minhas sandálias. Ora, por que haveria de respirar o asfalto e trocar o aroma das colméias e dos limoeiros de minha memória pelo exalar inócuo dos escapamentos?
Escapo da realidade presente por um dia para viver os abraços das recordações recentes. Nos braços da natureza aprendida. Canto no sótão do nosso chalé. Corro, mais uma vez, da lanterna no breu e fecho a nossa porta. Aqui o mundo é tão sereno e generoso! As pessoas, tão humanas e repletas de energia! Eis o tempo mais bem-aventurado em companhia (inicialmente) quase desconhecida. A vivência do anúncio da Nova Era. A Era da Percepção, das Artes, da Espiritualidade, alimentada pela consciência livre e pela Intuição.
O místico da cidade está em deixar-se levar pelas vozes da mata e das cachoeiras, e não é preciso despregar os pés da realidade para sentir essa conexão. A aceitação dela não inebria ou ilude os sentidos, mas os aguça e nos faz sorrisos de Deus (o ininteligível). - agora sim, flutuemos um pouco... e é tão bom sentir essa leveza. - Como o chapati (o pão mais primitivo de todos, de água e trigo), segundo nossa sábia "pita", quando incha, é a manifestação de que Deus sorri pra gente. "Inchamos" quando adoramos o natural. E não há nada mais real do que a aspereza dos troncos velhos, o cri-cri dos grilhos nos finais de tarde, a energia revitalizante d'um banho de cachoeira após oito quilômetros de passos e muita coragem...

Tornamo-nos fadas, duendes, magos, quando passamos a fazer parte das florestas e das montanhas. Tais seres não são apenas personagens de contos mágicos, são expressões de um estado de consciência. De quando nos tornamos vivos guardiões de nossa Mãe. Não temer minhas ações por saber que nunca me empreenderei em prejudicá-la. Cultivar boas relações com Ela e com os amantes dela: Bekimbal, Clara Luz, Salvador! Sentir-se livre dos sentimentos mesquinhos e das futilidades. Sem precisar evitá-los. Ser natural. Magia? Encanto. Somos a natureza que nos liberta.
A inspiração espontânea. Lá e aqui. Flautistas e violeiros. O toque acolhedor, mineirada gentil! É tanto. Décimo primeiro dia de vegetarianismo. Segundo dia sem São Thomé. Sem as estrelas em nosso quintal. Sem os cachorros na nossa porta.
Trará saudades.
Chamará um retorno.
(No entanto,)
Uma nostalgia súbita e viciante me experimenta o dia todo: e me parece mais clara ao apreciar um instrumental - ouço a trilha de "A casa do lago" e meu coração palpita, de carona, na flutuação temática de sua total intensidade. Ainda assim, sinto-me inerte. Mais do que aquelas rochas destroçadas das pedreiras de São Thomé. Hesito em começar qualquer outra coisa. Qualquer atividade urbana (a imobilidade já é uma atividade urbana). Prendo-me à cama como fito uma página que não quero virar.
Não vi a rua desde que cheguei em casa. Pois ela não me leva à cachoeira da Lua, nem acumula terra na sola das minhas sandálias. Ora, por que haveria de respirar o asfalto e trocar o aroma das colméias e dos limoeiros de minha memória pelo exalar inócuo dos escapamentos?
Escapo da realidade presente por um dia para viver os abraços das recordações recentes. Nos braços da natureza aprendida. Canto no sótão do nosso chalé. Corro, mais uma vez, da lanterna no breu e fecho a nossa porta. Aqui o mundo é tão sereno e generoso! As pessoas, tão humanas e repletas de energia! Eis o tempo mais bem-aventurado em companhia (inicialmente) quase desconhecida. A vivência do anúncio da Nova Era. A Era da Percepção, das Artes, da Espiritualidade, alimentada pela consciência livre e pela Intuição.
O místico da cidade está em deixar-se levar pelas vozes da mata e das cachoeiras, e não é preciso despregar os pés da realidade para sentir essa conexão. A aceitação dela não inebria ou ilude os sentidos, mas os aguça e nos faz sorrisos de Deus (o ininteligível). - agora sim, flutuemos um pouco... e é tão bom sentir essa leveza. - Como o chapati (o pão mais primitivo de todos, de água e trigo), segundo nossa sábia "pita", quando incha, é a manifestação de que Deus sorri pra gente. "Inchamos" quando adoramos o natural. E não há nada mais real do que a aspereza dos troncos velhos, o cri-cri dos grilhos nos finais de tarde, a energia revitalizante d'um banho de cachoeira após oito quilômetros de passos e muita coragem...
Tornamo-nos fadas, duendes, magos, quando passamos a fazer parte das florestas e das montanhas. Tais seres não são apenas personagens de contos mágicos, são expressões de um estado de consciência. De quando nos tornamos vivos guardiões de nossa Mãe. Não temer minhas ações por saber que nunca me empreenderei em prejudicá-la. Cultivar boas relações com Ela e com os amantes dela: Bekimbal, Clara Luz, Salvador! Sentir-se livre dos sentimentos mesquinhos e das futilidades. Sem precisar evitá-los. Ser natural. Magia? Encanto. Somos a natureza que nos liberta.
A inspiração espontânea. Lá e aqui. Flautistas e violeiros. O toque acolhedor, mineirada gentil! É tanto. Décimo primeiro dia de vegetarianismo. Segundo dia sem São Thomé. Sem as estrelas em nosso quintal. Sem os cachorros na nossa porta.
Trará saudades.
Chamará um retorno.
Então, saio da cama. Viro a página, segura de que ela já é parte integrante de algo ainda maior. Leves, busquemos as estrelas. Guardemos os cristais.
Namastê.
E a cada dia, mais saudades...
6 comentários:
"Serenidade. Discernimento. E eu só vivi ontem. Daí o meu encontro com o teu ser, Camila. Daí o meu quase encontro rumo à conquista de mim mesmo. Os portais se abriram. Profeta de minha própria história. Depois da cachoeira dos elementais, descobri que me levariam a uma gruta distante. Já era pôr-do-sol. Escuro e subimos mato dentro-montanha, pedras, galhos, cogumelos, cabaças e cães guardiões. Por minutos, me vi desesperado porque, apesar da comida, do agasalho e das lanternas, considerei perigosa demais a travessia. Me senti raptado pelo hippie, pelo mago, pela fada-sereia-de-flauta. Entreguei-me. Fui raptado pelo universo. Foi lá que nos encontrei. Viagem do eu ao nós. O amor abraçou o universo. Eu abracei a vida."
"é o abraço do universo", disse Carol, na caverna!
obrigado-grado-madrugado, com ou sem dramin, Camila!!!!!!!
Quem poderia me dizer por que várias lágrimas caem dessa cara encantada e cansada?
Tudo muito lindo e "incomentável", pela sensação de que não dá pra dimensionar o quão foi bom, e pela pena que é não poder ter ido junto!
Beijos de quem ganhou a madrugada.
oi flor!! lindo o texto.. deu ateh um apertinho no peito..
amei a viagem.. como eu sempre digo, o legal de td eh nóis msm.. o lugar eh lindo, mas sem o complemento nosso nao seria nem metade do q foi!
amei amei amei e amei.. ainda amo!
bjs p todos vcs!
ja to com todas as saudades!
Camila!
São Thomé é um lugar... é um lugar... é O lugar...
Suas palavras traduzem meus sentimentos sobre São Thomé.
Voltei de lá há três semanas pela terceira vez. Sempre volto abaladíssima, nunca quero virar a página.
Quem vai pra São Thomé, volta pra São Thomé, não se preocupe.
Seu texto é lindo.
Beijos,
Carol Kuk (amiga do Noubar)
Obrigada...
desleixo meu não responder aos comentários, mas sempre que recebo os guardo num guarda-agrado-(aguardo). Pois me tocam e me surpreendem com a recepção dos textos, que ficam bonitos mediante as palavras de vocês. (até, de vez em quando, me vejo pensando nessas pessoas no momento do despejar das linhas - Noubar, mais presente. Obrigada!)
contente por todos, Carol e Salvador, inesperados! dia haverá em que voltaremos todos pra San Thomé. e que seja em breve...
Abraços de vida!!
Hum! acabo de sair com a sensação que comentamos a pouco, a mesma de quando vemos um filme e ficamos no clima dele...acho que a viagem agora é um pouco disso pra você também. Gostei muito do texto que consegue expressar com competência o que sentiu lá, pelo menos eu senti daqui, e me deixou cheia de curiosidade pra conhecer essa cidade encantada.
Nada melhor do que fugir do asfalto e dessa locura de são paulo um pouco...é o que eu tento aqui, e é o que deve dar pra fazer muito bem em são thomé.
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