Além dos contornos

Não sei o tamanho da minha mente. E perco fácil a noção do quanto sou. Sou a medida do meu braço, da força na enxada, das minhas pernas enquanto corro? Então sou pouco e tenho sido menos a cada dia. Sedentarismo dá nisso. Atrofia. E se eu fosse livro, quantas palavras caberiam nessas páginas? Creio que poucas. Até hoje, só quis o bastante para registrar alguns passageiros do meu trem-mundo interior e paisagens do que existe lá fora. O resto passou sem carimbo. Mas sei que outros passaram porque hoje não sou o que era somada a algum sentido e paisagem. Devo ser algo um pouco mais do que isso. Somos algo além disso tudo. Somos gestos gentis. Sejamos talvez carencia e prazer. Somos flauta soprada por essa gana de vida. E os dedos que a tocam são família, fé, arte. Dependem da pessoa. Mover ou não, agora ou depois. Isto também é bem particular. Mas todos geram sons. E fazem música! Alguns apreciam, outros não. A amizade é bem isso. Prestigiar um músico ou curtir um som. Fazer um duo de flautas. Um trio, um quarteto, um quinteto. Quanto maior, mais difícil. Reparaste? Somos cores! E pintamos o sete. Nos sete dias da semana. Incansáveis, não?
Praticamente. Mas nem sempre. Um dia pedimos descanso. Mas as cores dão vida, não é o que dizem? Morrer é dar vida ao desconhecido. Mas antes, quero ser jogada para além dos contornos. Meditar sobre o topo do arco-íris. O que não significa a euforia demasiada, longe disso, nem lugar de destaque na parada gay! É desfrutar da liberdade interior, dispensar o vulgar. Afinal, creio que não é preciso agredir a liberdade dos outros para encontrar a felicidade.
Metáforas. Sentidos incertos para o leitor. O risco de interpretações indesejadas. Mas a chance de conhecer uma leitura até mais próxima do que o próprio autor sentiu. Somos assim. Somos e nunca saberemos exatamente para que somos. Mas somos para buscar o que somos. Ou ser apenas por ser busca de algo que se pode ser.
Será?

Escrito ao som de:
Handel - Sonata in D Minor
Handel - Sonata for Flute & Harpsichord

3 comentários:

Noubar Sarkissian Junior disse...

"Metáforas. Sentidos incertos para o leitor. O risco de interpretações indesejadas. Mas a chance de conhecer uma leitura até mais próxima do que o próprio autor sentiu."

Fantástico, camila! Isso sintetiza a intenção de nem sempre ser explícitos. De tornar o texto indepentente...possibilitar outras leituras.

Notei que vc anda lendo o carpinejar e o joão paulo! Que bacana! são duas pessoas tão especiais quanto seus textos nos dizem! (bom, o joão é meu amigo, mas o carpinejar eu só conheço "de vista" e de apresentações).

E vê se pára de apagar as postagens! rs
Menina modesta e talentosa!

beijos

Dani disse...

Que lindo, Buda!

Realmente não dá pra saber onde o texto vai levar, e, por isso, o devoro.

Um jeito muito legal de suceder sensações, percepções. Cada vez melhor, impressionante os múltiplos talentos que cabem em vocÊ, Budinha!!!

"Morrer é dar vida ao desconhecido"

Parabéns!
Beijos!!!

Mia disse...

Eu li sorrindo.