Sou um pedacinho de ser que resta
deixado por algo maior
que fica
sou levante de uma passagem sem vista
ancorado em afagos alados
e acenos coreografados
no despertar da manhã
que finda
o que vejo é o escuro da noite
ainda?
quando estávamos a sós: eu e eu
que estive diante de tudo e de ninguém
e que por estar diante de nenhum outro
não tinha nada
sentia o vento no vazio do tempo
até redescobrir a plenitude do néctar
ainda que solto pelos ares
cheiroso como que à procura de um par
era vida em todo seu despertar
não desperto apenas pelo sentido
mas pelo aroma,
pela leveza e pelo encanto
sua nascente era como fagulhas molhadas
que seguiam vibrando
até virarem estrela
centelha de amor universal
poder de criação maior do que a imaginação
bastava se entregar ao vento
em tempo de germinar
a via láctea inteira!
sou estrela solar planetária amarela
peixes com ascendente em virgem
serpente no calendário chinês
mulher e estudante universitária
estagiária e bolsista mensalista
quando a poesia se poda pelas definições
mas sereia de ouvidos molhados
pelo som semente do mar aberto
soberbo
coberto de imensidões
há canções em todos os meus ouvidos
vozes secretas nos telhados da minha alma
que esperam o momento certo para descobrir-me toda:
fico nua quando estou só.
Recolho as vértebras do passado
enquanto assisto construções de gentes
em minha face
(há)fundo em um sorriso
sim, mas sabe?
quero interromper o abismo com corações
porto amigo é meu recanto
e ainda que às vezes não me sou toda nua
é de todo meu ser estar contigo
acobertada pela amizade
cantante tua de azul se céu avista
e é de toda beleza esse encontro
pássaro que encontra espaço
passo
espaço que é mais alegre
em abrigar vôo
passeio cromático-musical sob o teto das experiências mundanas
para além do qual todos sabem haver o além do todo
aqui estou, pois
aqui me resta(m)
estrelas
festa
flor
amigos
orquestra
epifanias.
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