aldeia da paz


Nascer outra vez.

Cheiro de eucalipto, favos de mel, beija-flores entre árvores altas e barracas coloridas. Cânticos sagrados, vozes do coração, homens de barba, sabedoria ancestral, vislumbre luminoso, carne e sangue de Pachamama: “Ahoo, aldeia! Vem pra ro-da!”. É vida no giro dos braços a dançar pela roda de seres inteiros de paz, amor e alegria. As costas desacostumadas ao chão, erguendo-se aos poucos, experimentando o tempo, sentindo a umidade da manta de dormir... bah, ali, as vestes eram para acordar, isto sim! Também claras, leves, de bom dia e sejam felizes. Abraços mais energizantes ao atravessar a portela do abrigo, sorrisos jovens das crianças aos anciãos, despertar mais belo e despreguiçoso.

O som das flautas permeia do nariz aos cabelos, a força vem pelo ar, os tambores tocam fundo dos pés ao peito, pela terra. Oscar, peregrino corajoso que, depois de caminhar por meses carregando a bandeira da Paz até lá, fundara a aldeia, dá fôlego ao chamado transcendental pelo instrumento misterioso, grande concha que num sonar poderoso ecoa por todos os ouvidos e chama o coletivo a se abraçar ao redor do fogo sagrado.

Ali, oramos, cantamos, pulamos, dançamos, nos beijamos numa corrente que começa a qualquer momento: num impulso de amor e união, o primeiro beija a face do irmão à direita e este repassa o gesto ao que está ao seu lado direito, que por sua vez transmite ao próximo e assim vai, até que o primeiro receba novamente. Centenas de gente se beijam e a energia pura circula livremente. O círculo é ombro a ombro, coração a coração. (“Força da Paz, cresça sempre sempre mais, que reine a Paz, acabem as fronteiras, nós somos um.”)

O desjejum é fila, de cuias na mão, colher emprestada de quem já se alimentou, açaí de jussara, aveia e cereais. A fartura é grande quando compartilhada, se multiplica, alimenta melhor. E os utensílios são lavados sem água corrente, a barriga contente encosta numa das bacias e as mãos dançam pela água fazendo espuma com o sabão orgânico. A primeira é para o grosso, a segunda despe os teimosos, a terceira, cristalina, devolve o brilho aos côncavos. Não se gasta mais água para lavar a louça de uma aldeia toda, de trezentas refeições, do que se perderia numa lavagem convencional de uma dúzia de pratos. Parece mágica.

Em seguida, cada um assume seu posto: uns saem para buscar lenha, outros se dirigem à “flor-das-abelhinhas”, lugar onde as crianças ensinam os adultos a viver com encanto e a contar histórias improvisadas por horas a fio. Alguns se dedicam ao artesanato, músicos a animar as horas ensolaradas, a recepcionar os novos aldeões, carpinteiros montando estrutura para o mercado de trocas solidárias: cada um se é para o outro e sua pela comunidade. Faz Sol no Rio Grande do Sul!


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