Na lista em execução, todas as músicas molhadas, em brilhante bronze de litoral. O desafio posto sobre o teclado da memória e da imaginação, sobre os teclados cheios de areia e "ânimo de sexta-feira em domingo à noite", olhar que melhora o outro?
Em frente, rente ao revés do tempo, aproveitemos as estrelas da mente, as idéias, as lembranças, as luzes que delas se irradiam, amigo, que esse Sol ainda está pra se pôr...
A primeira onda vêm, me abate a fronte cheia de vento! Isso mesmo, cabeça-de-vento: pareço não pensar. Dou o estreante mergulho e colho a primeira imagem: enquanto todos os pés se apavoram e correm da praia, as mãos sobem às cabeças e os guarda-sóis viram guarda-chuvas, caminhamos do centro em direção ao mar, corremos sem pressa, arco-íris, almejada presa de três meninas sem outro destino: toró de lágrimas de alegria! Concha, bichinhos brincalhões afundando na areia encharcada, o vento, o vento, corre que a vida não pára... Metros, "pernas para que te quero"?
Quero-as para afogar tudo o que não era perna e por vontade! Todas as insatisfações, toda a indignação, todo o horror, todo o medo (de amar tanta coisa)! Tardinha de pernas, pele molhada de chuva e mar. Desaceleram. E dilaceram os lamentos de uma floresta de pó de pedras, recortam-nos e mosaicam em novas frases, tornando-[n]os versos soltos de exaltação viva!
Sensação boa de esforçar a panturrilha e avermelhar a planta dos pés e molhar os ombros, e aprender com a chuva a olhar melhor o mar. Pois meus olhos arderiam se enfrentassem em cento e oitenta os pedaços de nuvem mutante, cristais, então observo melhor o que há por baixo e pelos lados.
E é tudo tão esvoaçante, bate na superfície e volta ao ar, retornando ao Universo logo em seguida. Como me disseram ser a morte. O mar é o Universo. Quando se morre, integra-se a ele. Entrega-se ao mar. É também como uma onda que se ergue do azul maior, vai até a praia, enche-se de lama (e desejos), mas sempre volta. E volta só, deixa suas posses, lama, ego, pernas, na beira e apequena-se no gigante Mar. Assim dizem os budistas.
Não fito mais o céu, outrossim, por não precisar cobrar-lhe mais a prometida dádiva. Chove, e não estou só. Você está comigo. Meus amigos, meus entes queridos, meus mistérios. Carrego-os nessa minha viagem, nessa onda enlamaçante e entrecortado fluido temporal sobre as costas. Também os tenho em minhas memórias. Revisito-os e reinvento nossas passagens eternizáveis.
Então, paramos em frente ao Universo e cantamos "Imagine" do John Lennon. Parecemos enfrentar a Morte. Por confessar amar demais a outra, a Vida, embora a amemos não exatamente como ela realmente é em todo canto, mas como ela pode ser enquanto a canção não acaba: "Imagine there's no countries/It isn't hard to do/Nothing to kill or die for/And no religion too/Imagine all the people/Living life in peace"... Fechamos os olhos, cessamos o possível de todo o movimento e toda voz, externa ou interna, meditamos ao som das ondas (e outras vidas que voltam a aparecer conforme os pingos diminuem) e sentimos o Tudo e o Nada.
Paro de teclar por alguns instantes. Salvo mais uma vez o arquivo. Incessante desejo de eternidade o nosso! Mas as ondas, as horas, as estações nos atravessam, todo o tempo. Adianto uma hora no relógio. Começa outro verão... verão, embora ainda não haja tempo para praias ou vontades. Pensando melhor, sou até bem contrária a isso: muitas vezes, optamos pelo "inevitável". Mesmo assim, por ora, cesso: o Sol já se pôs há tanto, tenho sono.
Em frente, rente ao revés do tempo, aproveitemos as estrelas da mente, as idéias, as lembranças, as luzes que delas se irradiam, amigo, que esse Sol ainda está pra se pôr...
A primeira onda vêm, me abate a fronte cheia de vento! Isso mesmo, cabeça-de-vento: pareço não pensar. Dou o estreante mergulho e colho a primeira imagem: enquanto todos os pés se apavoram e correm da praia, as mãos sobem às cabeças e os guarda-sóis viram guarda-chuvas, caminhamos do centro em direção ao mar, corremos sem pressa, arco-íris, almejada presa de três meninas sem outro destino: toró de lágrimas de alegria! Concha, bichinhos brincalhões afundando na areia encharcada, o vento, o vento, corre que a vida não pára... Metros, "pernas para que te quero"?
Quero-as para afogar tudo o que não era perna e por vontade! Todas as insatisfações, toda a indignação, todo o horror, todo o medo (de amar tanta coisa)! Tardinha de pernas, pele molhada de chuva e mar. Desaceleram. E dilaceram os lamentos de uma floresta de pó de pedras, recortam-nos e mosaicam em novas frases, tornando-[n]os versos soltos de exaltação viva!
Sensação boa de esforçar a panturrilha e avermelhar a planta dos pés e molhar os ombros, e aprender com a chuva a olhar melhor o mar. Pois meus olhos arderiam se enfrentassem em cento e oitenta os pedaços de nuvem mutante, cristais, então observo melhor o que há por baixo e pelos lados.
E é tudo tão esvoaçante, bate na superfície e volta ao ar, retornando ao Universo logo em seguida. Como me disseram ser a morte. O mar é o Universo. Quando se morre, integra-se a ele. Entrega-se ao mar. É também como uma onda que se ergue do azul maior, vai até a praia, enche-se de lama (e desejos), mas sempre volta. E volta só, deixa suas posses, lama, ego, pernas, na beira e apequena-se no gigante Mar. Assim dizem os budistas.
Não fito mais o céu, outrossim, por não precisar cobrar-lhe mais a prometida dádiva. Chove, e não estou só. Você está comigo. Meus amigos, meus entes queridos, meus mistérios. Carrego-os nessa minha viagem, nessa onda enlamaçante e entrecortado fluido temporal sobre as costas. Também os tenho em minhas memórias. Revisito-os e reinvento nossas passagens eternizáveis.
Então, paramos em frente ao Universo e cantamos "Imagine" do John Lennon. Parecemos enfrentar a Morte. Por confessar amar demais a outra, a Vida, embora a amemos não exatamente como ela realmente é em todo canto, mas como ela pode ser enquanto a canção não acaba: "Imagine there's no countries/It isn't hard to do/Nothing to kill or die for/And no religion too/Imagine all the people/Living life in peace"... Fechamos os olhos, cessamos o possível de todo o movimento e toda voz, externa ou interna, meditamos ao som das ondas (e outras vidas que voltam a aparecer conforme os pingos diminuem) e sentimos o Tudo e o Nada.
Paro de teclar por alguns instantes. Salvo mais uma vez o arquivo. Incessante desejo de eternidade o nosso! Mas as ondas, as horas, as estações nos atravessam, todo o tempo. Adianto uma hora no relógio. Começa outro verão... verão, embora ainda não haja tempo para praias ou vontades. Pensando melhor, sou até bem contrária a isso: muitas vezes, optamos pelo "inevitável". Mesmo assim, por ora, cesso: o Sol já se pôs há tanto, tenho sono.
E as meninas me acordam num baita susto, outra vez!

Este: Fruto, talvez meio verde ainda, de uma proposta de publicar um olhar meu sobre o tema (chuva e mar, praia e chuva) enquanto um amigo publicava um olhar dele a respeito do mesmo. Tema que, por sua vez, partiu de uma agradável conversa de final de domingo...
Aquele: http://noubarjunior.blogspot.com/ - uau!
3 comentários:
Seus teclados da imaginação, que são tão, tão são precisos!
"aprender com a chuva a olhar melhor o mar". (lindo!)
E aprender com o mar a se molhar de chuva!
E esse ânimo de sexta-feira, que vem desde domingo, ainda persiste. Melhor: já é quase autêntico, pois já é quarta!
beijos,
menina que escreve molhado!
Eis que apareço =)
Fazia tempo né?
Vim tirar o atraso e ler os posts que surgiram depois das férias.
aaaaaaai aaaai *aquele suspiro*
É tudo de uma leveza que faz flutuar a mente e o espírito.
Em todos os textos leio filosofia, poesia, arte, natureza e outras dimensões escondidas que se fazem sentir pelas palavras tão bem fluídas.
Sabe aquilo que nas nossas conversas a gente chama de “momentos”, aquele espaço de tempo único em que alguém ou alguma coisa desperta uma sensação totalmente descolada do habitual? Acho que é isso que seus textos resgatam com notável sensibilidade. Não são só as imagens, mas as sensações também. Sensações que nunca conseguimos traduzir, mas que por ventura você transpõe perfeitamente nas palavras.
Rabiscadora, você tem meu eterno incentivo a escrever tudo o que passar pela cachola. São reflexões raras e preciosas.
Beijos e bom fim de semana! :)
Camila, entreguei-me ao seu texto como quem morre “entrega-se ao mar”. A sua prosa parece poesia. Você escreve versos? Se sim, deveria mostrá-los. Se não, escrevê-los.
Conversas de fim de domingo rendem boas ideias, parabéns a você e ao Noubar pela iniciativa!
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